Muito já se escreveu e disse sobre o processo de transição de carreira e seu corolário, a recolocação profissional, mas nunca é demais, principalmente neste momento de crise no mercado de trabalho para executivos e profissionais, acentuar alguns aspectos desse difícil processo, visando ajudar aqueles que estão em busca de novos empregos, a evitar alguns ERROS BÁSICOS e quem sabe alcançar seus objetivos de forma mais rápida e eficaz.
ERROS BÁSICOS
“ Procurar um novo emprego sem antes definir um foco claro de busca”
Os escritórios dos consultores de outplacement/recolocação ou coaching estão cheios de profissionais que tendo perdido seus empregos ou buscando alternativas aos empregos que tem, estão tateando no mercado, sem resultado para os seus esforços e sem conseguir as alternativas profissionais que aparentemente buscam. Dizemos “aparentemente” porque em um grande número de casos o foco de busca não está claro e tem-se a impressão de que o recolocando não sabe bem o que quer ou, pior do que isso, que concorre a tudo ao mesmo tempo sem que, para os selecionadores, fique evidente o emprego pretendido . Falamos, obviamente dos profissionais que se apresentam ao mercado sem saber o que querem e o que procuram. É como alguém já disse: “ Se Você não sabe bem o que quer, ninguém vai decidir isso por Você”. Cabe, portanto, lembrar que é um grande erro procurar um emprego no mercado de trabalho sem antes definir, com muita clareza, qual é o seu foco, seu objetivo, sua busca. Quais os cargos e funções, em que setor empresarial, em empresa de que porte, onde, com que remuneração e assim por diante. Defina tudo isso primeiro e depois parta para a luta!
“ Sair para o Mercado sem estar preparado para os processos de seleção”
Os profissionais de seleção das empresas, assim como os consultores de recrutamento e seleção não tem apreço pelos candidatos a emprego despreparados para participar dos processos de avaliação para contratação. Não estar preparado significa não saber apresentar a sua candidatura, tanto do ponto de vista da forma da comunicação oral,quanto do ponto de vista do conteúdo do seu discurso. Sem falar a postura e da apresentação pessoal que também contam pontos preciosos numa entrevista de emprego. Assim é que falar demais ou falar de menos incomodam, o chegar atrasado é imperdoável, a falta de higiene pessoal é eliminatória, o não saber expor sua história pessoal e profissional é inaceitável, o debruçar-se sobre a mesa do entrevistador não ajuda nada, o entrar mudo e sair calado é deplorável e o contar detalhes não pedidos é problema. Não há dúvida de que a posição do entrevistado é difícil, até porque muitas vezes se comete pecadilhos por causa da tensão e do nervoso vivido naqueles momentos da entrevista. Para evitar cometer este Erro é preciso que o Candidato conheça bem seu próprio Currículo e se sinta seguro de poder elaborar sobre o seu conteúdo; que, se possível, reúna dados sobre a empresa na qual pretende ser empregado para fazer perguntas e comentários inteligentes; procure não falar demais,nem de menos; não contar pequenas e grandes mentiras, nem exagerar qualificações; e, principalmente, entender que o bom entrevistado é aquele que ajuda o entrevistador em sua busca de informações para uma boa avaliação. O entrevistador não é um adversário e a melhor preparação do candidato é oferecer, de forma inteligente, condições para que o entrevistador possa obter as informações de que precisa. E lembre-se: “Ninguém engana todo mundo, todo tempo; vai que a empresa o contrata enganada. Quanto tempo dura? ”.
“ Candidatar-se a emprego com um mau Currículo ”
Já se falou muito sobre isso, mas é sempre oportuno lembrar: um bom Currículo, por si só, não dá emprego para ninguém, mas um mau Currículo pode pôr a perder uma boa oportunidade. E o que é um mau Currículo? É obviamente aquela peça de um processo de comunicação que não oferece adequadamente ao leitor as informações adequadas sobre o seu titular. Um Currículo em papel colorido, em tamanho diferente do A-4, impresso em letras de cor, com mais de duas páginas, não tem a forma que o mercado quer. Um Currículo que não defina claramente o foco de busca do Candidato, que não ofereça as informações pessoais e profissionais que o selecionador precisa para sua avaliação, que contenha dados incorretos ou que omita informações relevantes ou que pretenda enganar quanto aos fatos descritos é, certamente, um mau Currículo. E vale sempre lembrar dos pecadilhos mais comuns: não colocar a idade ou datas que podem comprometer o Candidato; assinar e datar o Currículo, obsolescendo gratuitamente o documento; colocar razões de saída dos empregos anteriores ou referências pouco importantes; e incluir no texto a remuneração pretendida, assunto para ser informado mais adiante no processo e não no corpo do Currículo. Qualquer pessoa, com alguma instrução e experiência pode fazer o seu próprio Currículo e não há formulas mágicas. Há sim, alguns cuidados, como os aqui mencionados, os quais se não forem observados poderão transformar o Currículo num erro básico de sua candidatura.
“ Uma má divulgação prejudica o Candidato “
Mesmo que as ações preliminares tenham sido cuidadas e os erros básicos evitados, ainda assim tudo pode ser posto a perder se o pecado da má divulgação for cometido. Ou seja, o foco de busca está bem claro e definido, o Currículo expõe adequadamente as pretensões e os ativos do Candidato e sua preparação para enfrentar as “feras” – selecionadores – foi bem desenvolvida. Resta, agora, divulgar a candidatura ao mercado, com eficiência e eficácia, sem o que todo o esforço anterior será perdido. E como fazer isso? O ponto de partida é se imaginar como qualquer empresa procede quando precisa contratar alguém no Mercado. A lista das ações é bem conhecida: utilização de headhunters, pesquisa nos bancos de vagas de empresas de outplacement/recolocação, uso dos bancos de vagas de empresas especializadas, uso do network de relações da empresas para recebimento de indicações e recomendações, anúncios em jornais e revistas, a consulta aos cadastros internos e, mais recentemente, a pesquisa do Linkedin. Diante disso, a recomendação clara é de que qualquer candidato a emprego se apresente ao Mercado, pelas vias utilizadas pelas empresas, adotando uma estratégia de ataque global e integrado em todas as frentes, de forma a ser percebido e mostrar sua disponibilidade onde quer que seus talentos sejam recrutados. Uma divulgação modesta e pouco intensa, que não aproxime o candidato às empresas recrutadoras, onde quer que elas procurem, será um erro básico para as pretensões do recolocando. É importante “malhar” o Mercado, com inteligência e propriedade, sob risco de jogar fora toda a preparação anterior.
“ A falta de um Plano de Contingência “
Entendendo que o Candidato fez tudo certinho em seu processo de busca do novo emprego e que as fases de preparação e divulgação se concluíram com acerto, é preciso lembrar que em seguida vem a fase mais difícil do processo de recolocação que é a da Competição pelo emprego desejado. É voz corrente entre os consultores de recursos humanos que uma posição de gerência média leva acima de 4 meses para ser conseguida por um executivo desempregado e que esse prazo se eleva quando mais sênior o nível da posição desejada. Evidentemente tais prazos se referem a épocas normais de conjuntura e mercado de trabalho. Nas crises econômicas esses prazos podem se alongar e complicar. Obviamente quanto mais difícil o mercado mais é preciso batalhar pelo emprego, que não vai cair do céu.O erro mais comum é o candidato fazer direitinho tudo o que devia para sua recolocação e depois “descansar”, ficando em casa, bucolicamente, exercendo funções do tipo doméstico e esperando o telefone tocar chamando para um emprego. Aí é que ele não toca mesmo! O que se sugere, alternativamente, é que o recolocando lutador, simultaneamente à busca do novo emprego, desenvolva um “Plano de Contingência” para o período da disponibilidade, que o ajude a se manter ativo profissionalmente, sair de casa todos os dias, não ficar esquecido, manter sua auto-estima e, porque não, faturar algum enquanto o novo emprego não vem. Aceitar a condição de desempregado e passar a habitar uma “zona de conforto” é um dos Erros Básicos para a recolocação.
CONCLUSÃO
Para terminar, é preciso que um profissional desempregado se prepare bem como Candidato para disputar, no Mercado, a posição que deseja. Um foco de busca bem definido, um bom Currículo e a capacidade de ir bem nas entrevistas é importante. Mas uma boa divulgação de sua candidatura é, também fundamental para o êxito do projeto. E enquanto o tempo passa, na fase de competição pelo novo emprego, um “plano de contingência” é fundamental. Em síntese, não chore pelos cantos as suas dificuldades. O Mercado é duro e não perdoa os que não trabalham bem!
Laerte Leite Cordeiro
Mestre em Marketing e Recursos Humanos. Cursos em Harvard e Stanford. Professor da EAESP da FGV (ret.). Executivo de grandes grupos empresariais. Consultor e Coach Sênior de Carreiras Executivas e Profissionais.